Estudiosos de alguns dos mais importantes centros de pesquisa do mundo reúnem-se de 2 a 4 de setembro na Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos – Finatec, no campus da Universidade de Brasília para discutir as melhores formas de monitorar as dinâmicas florestais, quantificar os estoques de carbono, compreender os fluxos de gases de efeito estufa e os impactos na biodiversidade causados pela degradação e regeneração de florestas tropicais.
O primeiro dia será dedicado a curtas apresentações dos pesquisadores sobre os temas específicos, o que dará uma visão científica global sobre esses assuntos com foco em estoques de carbono, emissões de GEE e da biodiversidade. Depois, eles se reúnem em grupos de trabalho para identificar as principais necessidades em programas de monitoramento da dinâmica florestal. No dia 4, a partir das 14:30h, haverá uma apresentação de alguns dos participantes do workshop para a comunidade acadêmica e público em geral.
O objetivo do workshop é avaliar a inclusão das remoções (rebrota, restauração) e emissões (degradação) da dinâmica florestal no desenvolvimento de modelos de contabilidade das florestas e outros usos da terra. Com isso, os pesquisadores querem apoiar o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas para a conservação e gestão sustentável das florestas.
O Brasil é um dos maiores interessados nesse debate. Detentor da maior floresta tropical contínua do planeta, o país dá sinais de que está conseguindo vencer o desmatamento graças a um sistema que une monitoramento e ações de prevenção e controle. No entanto, precisa avançar em relação ao entendimentos dos processos e padrões associados à degradação e regeneração das florestas.
Embora já existam dados parciais sobre degradação, ainda não é possível saber exatamente qual o impacto dessa dinâmica florestal sobre os biomas, as emissões de gases de efeito estufa e a perda de biodiversidade no território brasileiro.
Degradação
Tecnicamente, degradação difere do desmatamento – que caracteriza-se pelo corte raso e significativa alteração da paisagem. O desmatamento é evidente. Já a degradação é mais sutil, tem múltiplos vetores, entre os quais o corte seletivo de árvores de interesse comercial e as queimadas intencionais. A degradação florestal empobrece a mata, reduz a biodiversidade e impacta a sustentabilidade do ecossistema, deixando a floresta mais vulnerável a outros fatores de estresse.
E o fenômeno não se restringe apenas à floresta tropical úmida, como é o caso da Amazônia. No Brasil, a degradação é significativa também na Caatinga, Mata Atlântica e Cerrado, com repercussões ambientais, ecológicas e climáticas. Desses biomas, apenas a Amazônia conta com algum tipo monitoramento da degradação.
Dados recentes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE indicam que a degradação na Amazônia teria diminuído nos últimos três anos. O levantamento é do Degrad, sistema do Inpe que mapeia áreas que estão expostas à degradação florestal progressiva causada pela exploração ilegal de madeira. De acordo com o mapeamento referente aos anos de 2011, 2012 e 2013, áreas de 24.650 km², 8.634 km² e 5.434 km², respectivamente, apresentam algum estágio de degradação na Amazônia Legal, indicando, aparentemente, um decréscimo no fenômeno.
O lançamento de tais informações é relevante, mas é preciso aprimorar o entendimento das causas e consequências da degradação. “O fato de o governo monitorar e publicar os dados mostra que já não se pode mais deixar de olhar para a degradação como um importante fator da dinâmica florestal no Brasil.
Mas é preciso ampliar esse esforço. “Se sabemos onde houve degradação, temos de acompanhar a trajetória dessas áreas, comparar com informações em campo e ver se aquele processo foi interrompido ou se evoluiu para o desmatamento”, alerta a pesquisadora Mercedes Bustamante, do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília, que organiza o workshop.
Adicionalmente, diz ela, é necessário entender quais são os vetores que influem sobre a perda e regeneração florestal em cada região. “O Brasil está apenas começando a abordar o problema da degradação”, aponta a pesquisadora.
Segundo ela, uma noção mais profunda e segura sobre o que ocorre debaixo da copa das árvores, é essencial para que o Brasil possa contabilizar de forma mais precisa as emissões de gases de efeito estufa provenientes do setor florestal. “O último relatório do IPCC demonstra que, globalmente, as incertezas associadas às emissões do setor de Florestas e uso da terra estão em torno de 50%”, adverte Bustamante.
Para a estudiosa, a redução das incertezas envolve o aprimoramento das metodologias de sensoriamento remoto, mas também depende de levantamentos de campo mais precisos baseados em inventários florestais para validar modelos matemáticos que transformam dados de sensoriamento por satélite em dados de biomassa.
Segundo Bustamante, a incerteza nos dados dificulta o avanço de políticas públicas para estimular a redução das emissões, como é o caso do REDD+ (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação), mecanismo criado para recompensar projetos que ajudem a manter e restaurar florestas.
Para a Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, degradação florestal refere-se à perda de estoques de carbono nas florestas remanescentes. Só que o problema não se resume apenas ao carbono. A degradação provoca a perda de biodiversidade, com impactos sobre o funcionamento dos ecossistemas e serviços ambientais prestados pela floresta (como conservação de água, regulação climática, entre outros).
Infelizmente não se trata de um fenômeno que ocorre apenas no Brasil. A perda e degradação de florestas crescem em todo o mundo. Um estudo mundial publicado em 2013 apontou que as perdas de florestas tropicais, subtropicais, temperada e boreal chegaram a 2,3 milhões de quilômetros quadrados no período de 2000 a 2012. Os maiores prejuízos, porém, ocorreram na região dos trópicos.
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