Daniela Torezzan, do ICV
Cuiabá, 23 de julho de 2015 – O calendário anual de medição do desmatamento, que começou em agosto de 2014 e termina em julho de 2015, está praticamente fechado e Mato Grosso se consolida como o estado com os maiores índices de corte raso da floresta amazônica. Nos 11 meses correspondentes a esse calendário (agosto de 2014 a junho de 2015) foram registrados 943 quilômetros quadrados de desmatamento, uma alta de 149% se comparado ao mesmo período do ano anterior (agosto de 2013 a junho de 2014), quando 378 km2 de floresta foram derrubados. A alta verificada em Mato Grosso totaliza mais que o dobro da média verificada na Amazônia, que ficou em 65%. Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
De acordo com o monitoramento, considerando apenas os dados de junho, este é o primeiro mês do ano em que o desmatamento apresentou queda em comparação com o mesmo mês do ano anterior: 41% na Amazônia Legal. Entretanto, em Mato Grosso, essa redução foi de apenas 7%, aproximadamente.
Análise do Instituto Centro de Vida (ICV) com base nos dados de junho, apontam que o estado perdeu 106 km2 de floresta em 16 municípios. A maior área desmatada foi registrada em Colniza, 51 quilômetros quadrados, o que corresponde a cerca de 50% do total detectado em Mato Grosso. No acumulado de agosto de 2014 a junho de 2015, Colniza já derrubou 153 km2 de floresta, quase 190% a mais que no mesmo período do ano anterior, que totalizou 53 km2. No ranking dos municípios mato-grossenses que mais desmataram, aparecem Cotriguaçu, Aripuanã e Rondolândia, ambos localizados na região noroeste do estado e que, juntos, foram responsáveis por 76% da área desmatada em junho.
O monitoramento por categoria fundiária demonstra que 72% do desmatamento entre agosto 2014 a junho de 2015 aconteceu em imóvel rural não cadastrado no Sistema Integrado de Monitoramento e Licenciamento Ambiental (Simlan). Olhando para o caso específico de Colniza, por exemplo, dados divulgados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT) apontam que apenas 43% da área está cadastrada no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), como exigido pelo novo Código Florestal. Aliás, o município foi o primeiro a receber, em junho deste ano, uma comitiva do governo estadual que teve o objetivo de alertar sobre o problema do desmatamento.
Com relação ao tamanho das áreas desmatadas, a análise demonstra que 52% referem-se a polígonos de desmatamentos de 50 a 250 hectares.
Na comparação com outros estados da Amazônia Legal, os desafios de Mato Grosso para conter o desmatamento ficam mais evidentes. O Pará, por exemplo, apresentou uma redução do desmatamento em relação ao mesmo período do ano anterior, ainda que pequena, de apenas 1%, mas muitos representativas por ser em um cenário de aumento das taxas.
Segundo o ICV, os esforços para conter a alta do desmatamento no território mato-grossense precisam levar em consideração a implementação efetiva do Código Florestal, principalmente o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Neste sentido, o Programa Mato-grossense de Municípios Sustentáveis também tem um papel importante, pois reúne as agendas de regularização fundiária e ambiental, fortalecimento da gestão ambiental nos municípios e promoção de cadeia produtivas sustentáveis.
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