Pesquisadores alertam para quadro dramático de perda de vegetação nativa no bioma Pampa
* Texto da Rede Campos Sulinos
17 de Dezembro de 2020 — O Bioma Pampa, com seus 19.391.568 hectares, é conhecido pelo predomínio dos campos nativos. Justamente essa, que é a sua vegetação nativa característica vem sofrendo com a supressão para o avanço da agricultura e, mais recentemente, da silvicultura. Dados recentes derivados de mapeamentos feitos com base em satélites indicam que nos últimos 34 anos foram eliminados mais de dois milhões de hectares dessa vegetação. Ou seja, em 2018 a vegetação nativa campestre já tinha sido reduzida a um terço do bioma (33,6%). Esse processo foi mais intenso em algumas regiões, sendo que em alguns municípios restam menos de 6% do que havia no passado, um quadro de quase extinção.
Estes dados constam em uma análise feita pela Rede Campos Sulinos, que reúne pesquisadores dedicados ao estudo da biodiversidade da região. O estudo, intitulado “A Agonia do Pampa” parte de uma série histórica de mapas anuais de cobertura e uso da terra no Brasil, desde 1985, recentemente divulgados pelo Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo do Brasil (MapBiomas, coleção 5) e já considera o limite atualizado do bioma estabelecido pelo IBGE em 2019. O documento destaca também as mudanças ocorridas na legislação estadual, que vão na contramão da Lei Federal n° 12.651 de 2012, conhecida como Código Florestal.
As transformações da paisagem do Pampa, em especial a supressão da vegetação nativa campestre, mostram que em 28 municípios as perdas históricas foram superiores a 80 mil hectares, concentrando 54,7% de toda a redução dos campos nativos. De 160 municípios do Rio Grande do Sul analisados, oito foram considerados em situação péssima por apresentarem percentuais muito reduzidos em relação à cobertura original com vegetação nativa campestre. O que mais preocupa os pesquisadores é a redução média de 125.611 hectares por ano, que não dá mostras de decréscimo. Nesse ritmo, estimam que em 2050 restará menos de 12,9% do bioma coberto por vegetação nativa campestre. Os números confirmam o aumento da área destinada à produção agrícola, à silvicultura e às pastagens cultivadas. Desde 2014, a agricultura passou a ser o tipo de uso do solo predominante, chegando a 38,3% em 2018. Somente a partir de 2008 houve um aumento mais expressivo da silvicultura, especialmente com eucalipto e pinus, que já equivale a pouco mais de 2,4% do bioma.
O cenário de risco de extinção local da vegetação campestre em muitas regiões do Pampa, apresentado pelos pesquisadores, compromete a fauna e a flora nativas, bem como os serviços ecossistêmicos como a disponibilidade hídrica, os estoques de carbono no solo, a presença de polinizadores, entre outros.
O documento traz recomendações sobre os principais desafios em termos de políticas públicas e aborda os entraves legais que precisam ser superados para poder contornar esse quadro considerado dramático. Um dos principais problemas detectados é a implantação de 20% de Reserva Legal nas propriedades rurais, considerada fundamental para a continuidade de serviços ambientais relacionados à água, solo e clima, indispensáveis aos seres humanos. Entre as indicações está a necessidade de incentivar a pecuária em campo nativo, tendo em vista que estudos anteriores já comprovaram a compatibilidade da atividade com a biodiversidade desses ecossistemas.
Contato: Raíssa Genro (51) 9 83084134 – campossulinos@ufrgs.br
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