A região de Iguape, Ilha Comprida e Cananeia é uma das que mais fornece os frutos do mar pescados no estado de São Paulo. Isso porque o local concentra a área mais extensa de manguezal em São Paulo, 15.193 ha de mangues, o berçário de várias espécies marinhas. Como uma maternidade, ele fornece às espécies abrigo e alimentação, ajudando-as a se desenvolverem. Atualmente, essas espécies correm risco, pois os berçários de Iguape estão ameaçados pelos chamados localmente de “icebergs verdes”: as plantas aquáticas de água doce. Essa foi uma das adversidades apresentadas no “Encontro: Mudanças Climáticas e o Litoral de SP” na primeira semana de abril, que faz parte do Projeto Mudanças Climáticas e o Futuro das Comunidades do Litoral Sul Paulista, desenvolvido pela Iniciativa Verde com apoio do Instituto HSBC Solidariedade. Se o aquecimento global se concretizar, as projeções apontam que o problema pode ser agravado na região.
O problema está exposto aos olhos de qualquer um que caminha pelo município – ou navega – em frente ao rio Ribeira de Iguape. As ilhas de mangues estão rodeadas por plantas aquáticas de água doce. Em seu centro, as florestas de mangues ficam cada vez mais esmorecidas. “As macrófitas (plantas aquáticas) de água doce estão impedindo que os mangues cresçam ou se mantenham, pois elas flutuam, não fixam sedimento”, explica a palestrante do encontro Marília Lignon, bióloga que desde 2000 mede e estuda os mangues da região. Sem sedimento (como areia ou argila), as plantinhas da floresta não conseguem encontrar como se firmar para crescer. Além disso, as macrófitas gostam de águas com muita matéria orgânica que pode ser decorrente de esgoto e também de restos de substâncias usadas na agricultura trazidas pela água.
Retirar as macrófitas resolve temporariamente o problema. Para preservar os mangues, deveria ser cortado o mal pela raiz: descobrindo o porquê da quantidade de água doce ter aumentado no local. Afinal, as plantas de água doce não conseguiriam se desenvolver em tamanha quantidade se a salinidade da região fosse maior e, assim, eles estariam mais resguardados durante o aquecimento global. “O aquecimento global tem como uma de suas consequências o aumento da temperatura média anual, podendo interferir nos ciclos reprodutivos e no equilíbrio salino do lodo do mangue. Se o mangue estiver preservado durante o evento, o risco na alteração das populações de animais que dependem dele será menor”, diz Fernanda Luccas, bióloga doutoranda em ciência ambiental na Universidade de São Paulo e palestrante do evento.
Segundo Marília, os mangues protegem as zonas costeiras de regiões tropicais com águas quentes. “Eles ajudam na regulação do clima, já que dentro deles a temperatura varia pouco; seguram sedimento; são uma barreira contra tufões e outros eventos; e, oferecem alimento”, conta a pesquisadora. A América do Sul tem 11% dos mangues do mundo, sendo que o Brasil é o terceiro país com mais manguezal no planeta, com 7%. “As macrófitas não substituirão os mangues e eles estão sumindo em Iguape”, ressalta Marília. Uma maneira de reverter isso é cuidar do meio ambiente.
“As mudanças climáticas são um componente para olharmos ao meio ambiente com outros olhos e não se apropriando dele”, afirma o palestrante Humberto Rocha, pesquisador do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo. “No mínimo, a discussão sobre mudanças climáticas podem fazer com que melhoramos como tratamos o meio ambiente”, Roberto Resende, presidente da Iniciativa Verde.
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