Fonte: O Eco / por: Elizabeth Oliveira
Perda de vegetação nativa, desmonte de políticas públicas ambientais e crise climática potencializam os efeitos das enchentes e colocam em xeque o modelo de desenvolvimento gaúcho
“Água barrenta é solo que está sendo levado pela enchente”, destaca o biólogo Eduardo Vélez, pesquisador do projeto MapBiomas, em uma sinalização evidente de que solos desprotegidos se tornaram mais vulneráveis em cenários de agravamento da crise climática, quando volumes de chuvas totalmente fora dos padrões históricos arrastaram tudo o que encontravam pela frente nas últimas semanas no Rio Grande do Sul. A região do Guaíba, composta por nove bacias hidrográficas, cujas águas drenam para o lago Guaíba e para a Lagoa dos Patos, não foi uma das mais afetadas por acaso. Essa região, que contempla partes dos biomas Pampa ou Campos Sulinos, ao sul e a oeste, e Mata Atlântica, ao norte e nordeste, perdeu 1,3 milhão de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2022 para atividades agrícolas, mineração, silvicultura e urbanização, segundo dados do MapBiomas.
Marcelo Elvira, assessor em Advocacy do Observatório do Código Florestal, é outra voz que se soma à discussão sobre a importância da legislação ambiental em vigor e que opina sobre os riscos envolvidos com o seu descumprimento, sobretudo, diante do atual cenário de perdas e danos inestimáveis no Rio Grande do Sul. Ele exemplifica como situação preocupante, que pelos dados do Termômetro do Código Florestal (TCF) o estado tem um passivo de 385.379,3 hectares quando somados 255.484,6 hectares de Reserva Legal e 129.894,7 de APP suprimidos das propriedades rurais gaúchas. “Quando uma norma estadual é flexibilizada, ela está afetando o coração de áreas fundamentais ao equilíbrio ecológico em um estado que tem uma importância gigante para o país”, afirma em relação às controvérsias envolvendo arcabouço estadual que passou por alterações.
O assessor também menciona um estudo do Instituto Escolhas, segundo o qual o passivo ambiental para a reconstrução do Rio Grande do Sul é da ordem de 1,16 milhão de hectares de vegetação nativa degradada. Esse levantamento indica que somente a recomposição de Reserva Legal no estado poderia gerar 80 mil empregos, o que teria importância central na economia gaúcha.
O ambientalista menciona, ainda, que o Observatório tem atuado fortemente em posicionamento contrário aos projetos de lei que tramitam no Congresso e que colocam em risco o Código Florestal, tendo em vista que a fragilização desse arcabouço legal pode se reverter em outras tragédias como a que vem sendo enfrentada pela população gaúcha.
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