06 de junho de 2016 — É preciso recuperar o passivo do desmatamento acumulado e iniciar o processo de recuperação do que foi destruído na floresta amazônica. Esta é a conclusão de um relatório lançado nesta quinta-feira em São Paulo (30) que reúne em linguagem simples as conclusões de cerca de 200 estudos científicos sobre a floresta.
De acordo com o relatório O Futuro Climático da Amazônia zerar o desmatamento já não é o suficiente para garantir que a florestal continue a atuar como reguladora do clima e de chuvas e exportadora de serviços ambientais para áreas produtivas. Somente no Brasil, a área desmatada da floresta corresponde a três vezes a do estado de São Paulo: 763 mil Km2.
Conduzido pelo pesquisador Antonio Donato Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, a pedido da Articulación Regional Amazónica (ARA), o estudo mostra que como cerca de 20% da floresta já estão desmatados e outros 20% degradados, ela está no limite e já começa a falhar no seu papel de reguladora do clima na América do Sul. O biogeoquímico Antônio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) conduziu o estudo e afirma que é preciso iniciar um amplo reflorestamento, já que a seca no sudeste pode ser resultado da destruição da Amazônia.
Segundo Nobre, a floresta amazônica não mantém o ar úmido apenas para si mesma. Ela exporta essa umidade por meio de rios aéreos de vapor, os chamados “rios voadores,” que irrigam áreas como o Sudeste, Centro-Oeste e Sul do Brasil e outras áreas como o Pantanal e o Chaco, além da Bolívia, Paraguai e Argentina. “Sem os serviços da floresta, essas produtivas regiões poderiam ter um clima inóspito, quase desértico”.
Esta competência de regular o clima se dá principalmente pela capacidade inata das árvores de transferir grandes volumes de água do solo para a atmosfera através da transpiração. São 20 bilhões de toneladas de água transpiradas ao dia, o equivalente a 20 trilhões de litros. Para se ter uma ideia, o volume despejado no oceano Atlântico pelo rio Amazonas é de pouco mais de 17 bilhões de toneladas diariamente. “As árvores funcionam como gêisers de madeira, jorrando esse imenso volume de água vaporosa na atmosfera”.
Uma nova teoria física descrita no relatório sustenta que a transpiração abundante das árvores, casada com uma condensação fortíssima na formação das nuvens e chuvas – condensação essa maior que aquela nos oceanos contíguos –, leva a um rebaixamento da pressão atmosférica sobre a floresta, que suga o ar úmido sobre o oceano para dentro do continente, mantendo as chuvas em quaisquer circunstâncias. Para Nobre, esses efeitos favorecedores fazem da floresta a melhor e mais valiosa parceira de todas as atividades humanas que requerem chuva na medida certa, um clima ameno e proteção de eventos extremos.
Mas o desmatamento pode colocar todos esses atributos da floresta em risco. Reconhecidos modelos climáticos anteciparam variados efeitos danosos do desmatamento sobre o clima, previsões que vem sendo confirmadas por observações. Entre elas estão a redução drástica da transpiração, a modificação na dinâmica de nuvens e chuvas e o prolongamento da estação seca nas zonas desmatadas. Outros efeitos não previstos, como o dano por fumaça e fuligem à dinâmica de chuvas, mesmo sobre áreas de floresta pristina, também estão sendo observados.
Vários estudos sugerem que a floresta, na sua condição original, tendo perseverado por dezenas de milhões de anos, tem grande resistência a cataclismos climáticos. Mas quando é abatida ou debilitada por motosserras, tratores e fogo sua imunidade é quebrada. Nos cálculos de Nobre, a ocupação da Amazônia já destruiu no mínimo 42 bilhões de árvores, ou seja, mais de 2000 árvores por minuto – ininterruptamente –, nos últimos 40 anos. O dano de tal devastação já se faz sentir no clima próximo e distante da Amazônia, e os prognósticos indicam agravamento do quadro se o desmatamento continuar e a floresta não for restaurada.
Entre as medidas mitigadoras, o estudo propõe “universalizar o acesso às descobertas científicas que podem reduzir a pressão da principal causa do desmatamento: a ignorância”. E é preciso agir, recomenda o documento, que fala em um “esforço de guerra” para reverter o quadro atual.
Para Sérgio Guimarães, coordenador da ARA Regional, O Futuro Climático da Amazônia é uma grande contribuição nesse sentido. “Nossa intenção ao promover essa publicação é justamente tornar esse conhecimento acessível a diversos setores da sociedade. Quando todos entenderem a importância das florestas para nossa economia e nossa vida, com certeza estará isso estará no centro dos nossos debates e das nossas políticas públicas”, diz Guimarães.
(Com WWF)
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